Ana Pérez-Quiroga trilha uma exploração do quotidiano pelos caminhos de subculturas cosmopolitas que se desenvolvem num diálogo com a cultura vigente, hipermoderna, nesta Pós-Modernidade-Tardia, de início de século e fim da Era Pós-Moderna.
O percurso de Ana Pérez-Quiroga é uma captura do quotidiano sob a grande imagem em que se cristaliza a cultura vigente actual. Ou seja, Ana desconstrói pela pequena imagem a ideia de fim das meta-narrativas operado pela Pós-Modernidade e substituída pela Meta-Imagem. A pequena imagem de fragmentos do quotidiano em acto, sem encenações ou montagem ou produção, é a captura do pequeno momento que compõe a vida, o conjunto de eventos que são verdadeiramente importantes e que são comummente desvalorizados em nome dos grandes momentos, mais adequados à Meta-Imagem.
A pequena imagem enquanto fragmento do quotidiano é capturada por snapshots, recorrendo a uma câmara de telemóvel. A captura é de momentos quotidianos pelos quais passa, que compõem a vida, numa viagem diária pelo momento presente por entre pessoas, lugares, eventos. A essência da vida é esse momento sempre presente que descuramos porque o vivemos na sua imediatez. O momento é capturado pela máquina porque Ana Pérez-Quiroga o está a viver, não pára de o viver, não se distancia, ela vive-o e a captura da imagem acontece como parte da vida.
Recorre à tecnologia do Instagram para partilhar e produzir as imagens, imediatamente partilhadas no Facebook também, da mesma forma que recorria aos slides antes do surgimento desta nova tecnologia. Este dado é relevante de uma ideia de partilha quotidiana que está dependente da tecnologia disponível. As limitações dos slides são nostálgicas, porque são limitações reconhecidas hoje. Os slides, que era a nova tecnologia no momento permitiam a partilha dessas imagens fotográficas. A fotografia, transformou-se pela potencialidade de divulgação, na sua qualidade e alcance, permitindo um outro desenvolvimento dos seus projectos fotográficos.
As imagens fotográficas são imagens similares às imagens que habitam o subconsciente e a que acedemos por associação, despoletada por jogos emocionais. As imagens de Ana Pérez-Quiroga evocam esses momentos, essas emoções vividas, porque capturadas enquanto a artista as vivia.
Essas imagens apresentam figuras de amigas e amigos, de objectos, de eventos do momento quotidiano fundamental, o momento da vida real sem produção, sem pré-conceitos, sem a dimensão do socialmente correcto, são enquadrados pelo olhar e capturados pela segunda base dados de Ana, o telemóvel com câmara fotográfica, sendo a primeira o cérebro.
Assim a foto-instalação Auto-retrato da artista enquanto parte da Sociedade / Artist self-portrait as part of the Society, 2013 é um auto-retrato de Ana Pérez-Quiroga um auto-retrato tão íntimo quanto social, pois é o modo de ver o mundo de afirmar de modo consciente o que lhe é relevante, o que é relevante para a sua vida, esse território de nuclear importância que esquecemos no quotidiano, na nossa formatação pela procura da Meta-Imagem que subsuma o grande evento justificador e organizador de tudo.
Os locais, os eventos os amigos revelam essas camadas sociais de subculturas escolhidas, subculturas com identidades colectivas definidas, com conteúdos culturais determinadores e determinados pelos seus participantes pelas quais Ana Pérez-Quiroga navega e com as quais se identifica.
As fotografias, fragmentos de uma vida no seu contexto social e íntimo, revelam o modo de ser-no-mundo de Ana Pérez-Quiroga, a artista auto-retratada na vida. A vida por ser um sempre presente e, enquanto tal, uma evidência, escapa ao escrutínio e à consciência desse momento.
Vítor Hugo Leal