(…)
Abriram-lhes a porta. Abriram-lhes ainda cem cortinas. A mais viva luz brilhou.
Contemplaram finalmente o Simorg, e viram que o Simorg era eles mesmos -
- e que eles mesmos eram o Simorg.
Quando eles olhavam o Simorg, eles viam que era bem o Simorg.
E se eles retornavam o olhar sobre si mesmos,
eles viam que eles próprios eram o Simorg.
Eles não formavam na realidade senão um único ser.
Nunca ninguém no mundo tinha ouvido nada semelhante.
Os pássaros imobilizaram - se lentamente na presença do Simorg -
- deles próprios.
Sem compreenderem nada, eles questionaram o Simorg,
não se serviram da língua.
Perguntaram-lhe qual era o grande segredo.
Então o Simorg disse-lhes, sem ter utilizado tão pouco a língua:
"o sol da minha majestade é um espelho.
Aquele que se vê nesse espelho, aí vê a sua alma e o seu corpo.
Vê-se nele por inteiro. Fossem vocês trinta ou quarenta,
vocês veriam trinta ou quarenta pássaros nesse espelho".
Então os pássaros perderam-se para sempre no Simorg.
A sombra confundiu-se com o sol, e pronto.
O caminho fica aberto, mas já não há nem guia, nem caminhante.
Poema sufi persa do século XII
de Farid Ud-Din Attar