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Ana Pérez-Quiroga
Lugares vazios?
João Silvério, 2006
Uma mesa acompanhada por dois bancos corridos, fabricados em ferro pintado e contraplacado marítimo. Um tipo de equipamento destinado a práticas sociais como comer, beber, jogar ou apenas conversar quando à mesa se encontra um grupo de pessoas. Estes objectos de mobiliário foram desenhados por Ana Pérez-Quiroga que lhes introduziu uma subtil alteração. O bordo dos tampos da mesa e dos bancos é ligeiramente elevado, criando uma diferença quando estamos sentados ou apoiados sobre a mesa. É uma modificação em relação ao conforto que habitualmente sentimos num equipamento semelhante, mas não alterado, na fruição de uma refeição ou durante uma conversa. Esta alteração do objecto interfere com a nossa memória de acções automatizadas, e interiorizadas, de tal forma que nos deixam disponíveis e entregues à fruição do convívio à mesa. Mas uma míriade de ocorrências entre a diversidade dos intervenientes presentes, pode transformar-se num jogo de cativação entre estes, ligados através destas peças de mobiliário que se transformam num dispositivo relacional. O que vemos, o outro, os outros? É dependente do nosso olhar que “vistas” temos das acções que se vão desenvolvendo e que nos enlaçam numa teia de alteridade. A mesa passa a ser um espaço geográfico e territorial de negociação entre os presentes. A pequena alteração, introduzida nas peças de mobiliário, opõe-se ao nosso corpo como uma sinalização sensível (moral?) que impede uma entrega sem resguardo à aparência sedutora dos encantos praticados.
Esta mesa e estes bancos de que vos falo, constituem a obra que se intitula Vedute #2, e não veduta. O plural aqui é importante porque nos envia directamente para o espaço relacional. Não se trata apenas de uma metáfora de uma vista paisagística (Canaletto ou Piranesi). Estas Vedute são mecanismos de identidade indiciados nos lugares vazios e na mesa despojada e limpa que encontramos.