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Emília Tavares, Catálogo: 1980-2004 Anos de actualização artística das colecções do Museu do Chiado, 2004
Partindo da encenação de um espaço privado abastado em que, com alguma tradição, se expunha o objecto das travessas de porcelana enquanto elemento decorativo, mas também valorativo, a artista desagrega este dispositivo cénico tradicional e sóbrio, ao inscrever em cada uma das travessas o seu próprio corpo nu, em poses variadas, e a frase em 4 línguas (português, inglês, francês e alemão): odeio ser gorda come-me por favor!. Deste modo, varias vertentes da representação feminina são implodidas, o contexto familiar, a associação de uma atitude decorativa ao género feminino por defeito, e o cerne de toda a peça a imposição de uma aparência perfeita. Ao lidar, numa ironia revoltada, com o sentido do desejo recalcado em corpos imperfeitos, cada pose é um acto provocatório de exposição dum corpo que se sente rejeitado, e cada travessa uma oferenda, com uma forte carga sexual e carnal, assim como uma desarticulação das tradicionais esferas entre género feminino e certos objectos do quotidiano.


Emília Tavares in catálogo, 1980-2004 Anos de actualização artística das colecções do Museu do Chiado. Castelo Branco: Museu de Francisco Tavares Proença Júnior, D.L. 2004. p. ?.
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